Do Androids Dream of Electric Sheep? - Philip K. Dick

’Is it a loss?’ Rachael repeated. ‘I don’t really know; I have no way to tell. How does it feel to have a child? How does it feel to be born, for that matter? We’re not born; we don’t grow up; instead of dying from illness or old age we wear out like ants. Ants again; that’s what we are. Not you; I mean me. Chitinous reflex-machines who aren’t really alive.’ She twisted her head to one side, said loudly: ‘I’m not alive! You’re not going to bed with a woman. Don’t be disappointed; okay? Have you ever made love to an android before?’

‘Do Androids Dream of Electric Sheep?’, Philip K. Dick

Nem todas as histórias de ficção científica têm para oferecer uma experiência tão completa como este ‘Do Androids Dream of Electric Sheep?’. É muito mais do que um cenário futurista ou um argumento puramente fantasioso: é uma história sobre a humanidade e a sua busca constante pelo reconhecimento e pela emoção.

Rick Deckard é, nesta obra de Philip K. Dick, um caçador de andróides no que resta do planeta Terra. Uma guerra assolou de tal forma a Terra que praticamente todos os animais morreram, a humanidade emigrou para Marte e o que ficou no planeta é pó, desordem, alguns andróides, algumas empresas que ainda lucram com a destruição e os chamados “chickenheads”, humanos incapazes de serem verdadeiramente humanos.

A nova missão de Deckard é a de matar seis andróides Nexus-6, facilmente confundíveis com humanos, por uma grande recompensa que lhe permitiria ascender socialmente e adquirir um animal verdadeiro, em lugar da ovelha eléctrica que tem na casa que partilha com a esposa Iran. Nesta jornada aparentemente simples vai cruzar-se com muitas personagens e situações desafiantes que o levarão a conhecer-se melhor.

Não é fácil descrever uma história tão complexa a tantos níveis e com tantas camadas de profundidade. Esta sociedade pós-apocalíptica nada tem a ver com a sociedade que conhecemos, e no entanto identificamo-nos tanto com este desprendimento da vida que nos rodeia. E sobretudo com esta personagem aparentemente sem sentimentos, sem moral, premeditadamente inconsciente dos seus actos, que afinal não passa de um ser humano que só quer sentir que é alguém, num mundo em que os andróides são cada vez mais humanizados e os seres humanos já nem têm lugar para se sentirem humanos.

Nesta vida que resta no planeta Terra, o animal que cada ser humano tem é um espelho da classe social a que pertence. Ter um animal real, vivo, é tão raro que o preço destes animais é muito elevado. Já um animal eléctrico, também com um custo elevado pela tecnologia exigida, tem um custo mais acessível e mostra assim que o seu comprador não consegue comprar um animal de estatuto mais elevado. Este é sem dúvida a primeira motivação de Deckard para matar os andróides e receber a sua choruda recompensa.

Com o passar do tempo, ao cumprir a sua missão e ao cruzar-se com uma andróide especial, a bela Rachael Rosen, Deckard vai-se apercebendo de que talvez tenha, na realidade, uma intenção diferente e mais profunda. Descobre que os andróides não lhe são assim tão indiferentes; que a “empathy box” que todos os humanos têm em casa e supostamente é a fonte de todas as emoções - dentro do Mercerism, a religião que os une a todos na dor de um só homem, Mercer - não se compara à dor real de matar seres que lhe começam a ser queridos; que, para lá da ascensão social, procura viver e sentir verdadeiramente, muito mais do que programar o seu “mood organ” para poder passar mais um dia da sua existência dentro de uma emoção que não é real.

É um mundo em que tudo é artificial, até mesmo as sensações, os estados de espírito, as emoções - que supostamente são o que caracteriza um ser humano como ‘humano’. O Mercerism não passa de uma falsa sensação, de um episódio repetido e partilhado por todos, que independentemente de ser ou não real nunca é uma experiência individual e única para cada pessoa. E, neste contexto, a humanidade dos andróides parece-nos, e a Deckard, tão mais real do que o que agora resta no planeta Terra e nos que por lá ficaram a apodrecer, no meio do pó e da destruição da terra e das almas.

É fácil, por outro lado, perdermo-nos em indagações sobre o que esta leitura significa para nós. E ainda mais quando nos apercebemos de que é uma história que cresce em nós à medida que o tempo passa, não se fica pelo momento de leitura e muito menos pelo terminar das novas páginas a ler. Apetece ler e reler e aprender algo novo em cada leitura, nem que seja sobre nós próprios. E lê-lo em inglês foi uma experiência ainda mais emocionante.

‘Do Androids Dream of Electric Sheep?’ serve de base ao filme ‘Blade Runner’, embora pouco desta sociedade pós-apocalíptica, religiosa e ‘emotionless’ se reveja na obra cinematográfica - não deixando de ser um excelente filme de ficção científica, tal como a sequela estreada este ano. O que o livro de Philip K. Dick traz de novo é um olhar inesquecível e muito actual sobre a dicotomia ser humano vs robô, sobre a humanidade, que nos deve fazer olhar ao espelho e reflectir sobre o rumo da sociedade tecnológica e a importância do que nos torna humanos no meio de tudo isto.

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