O Cometa na Terra dos Mumins - Tove Jansson


"O céu já não estava vermelho, mas outra vez de um bonito tom de azul, e o Sol matinal brilhava no seu lugar habitual, com ar de ter sido acabado de polir. O Mumintroll sentou-se e virou a cara para a luz, fechando os olhos e dando um profundo suspiro de felicidade."
‘O Cometa na Terra dos Mumins’

Descobrir a literatura infanto-juvenil com olhar de pessoa adulta é algo que deveríamos experimentar frequentemente, quanto mais não seja para, de vez em quando, voltarmos a encontrar aquele pequeno ser dentro de nós que sonha acordado e ainda acredita em magia. ‘O Cometa na Terra dos Mumins’ teve esse efeito em mim - de uma prenda de Natal adorável, transformou-se numa verdadeira viagem por histórias e emoções inesquecíveis.

Mumintroll e o seu amigo Sniff partem em busca de mais informações sobre um cometa que, segundo o seu pressentimento e o que lhes vão dizendo na terra onde vivem os Mumins, vai atingir o planeta muito em breve. Ao medo de desaparecer da face da Terra, junta-se a adrenalina de descobrir quando esse encontro vai acontecer e a vontade de regressar a casa para poderem enfrentar em família o que seja que aí vem. E, pelo caminho, surgem amizades (e amores) que vão durar uma vida.

Há uma doçura enorme na forma como Tove Jansson relata a aventura do Mumintroll e dos seus amigos, o seu romance com a Snorkina, a impetuosidade de Sniff, a seriedade de Snork, até a sisudez do Hemulo. Às palavras, acrescenta uma dimensão imagética que faz toda a diferença: as ilustrações simples, incolores e muitas vezes desenhadas em torno do texto são a forma da autora nos mostrar, com uma sensibilidade ainda maior, os sentimentos que transmite na escrita.

Não é uma aventura fácil: afinal de contas, eles acreditam que um cometa vai cair na Terra (à hora marcada, ou "possivelmente quatro segundos mais tarde”) e destruir o mundo tal como o conhecem. Mas não é a sua ingenuidade de crianças que sobressai na escrita de Jansson, é antes a coragem das suas personagens, a simplicidade das pequenas coisas e emoções; no fundo, a esperança que carregam.

- Oh, que linda! - exclamou a Snorkina. Depois voltou-se para o Mumintroll e disse envergonhada: - Isto é para ti, Mumintroll, por me teres salvado do arbusto venenoso. 

Ninguém sabe o efeito que a queda deste cometa na Terra terá, no entanto a esperança do Mumintrol recai no regresso a casa, na capacidade que as mães têm de saber sempre resolver as coisas, até no facto de o enfrentarem todos juntos: "Se conseguirmos chegar a casa da Mamã antes de o cometa cair, nada de mal nos poderá acontecer. Ela saberá o que fazer”. Só quando estamos na gruta, com eles, prestes a sentir o toque do cometa sobre a Terra, é que sentimos, com eles, o medo de perder tudo.

Do romance simples e bonito do Mumintroll e da Snorkina à complexidade desta corajosa viagem aventuresca vai o caminho que Tove Jansson nos ajuda a percorrer ao longo destas páginas, que quase ‘engolimos’ da avidez de as ler. Não deve haver muita literatura com famílias de trolls que seja tão doce, tão sincera e forte ao mesmo tempo. Mas que estes são fofinhos, lá isso são.

Por isso não é difícil entender que estas personagens com carácter e tenham dado origem ainda a outros livros (em Portugal, está ainda publicado ‘A Família dos Mumins’, também pela Relógio D’Água), séries de televisão e até um parque de diversões na Finlândia, terra natal da autora. Até porque, apesar de datar de 1946, este ‘O Cometa na Terra dos Mumins’ não podia ser mais actual no apelo à simplicidade das emoções.


        


Um preview do romance para quem tiver curiosidade AQUI :)

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