As Aventuras de Pinóquio - Carlo Collodi

- Oh!, já estou cansado de ser boneco! - gritou Pinóquio, dando uma pancada no pescoço. - Já é tempo de me tornar um homem como todos os outros.
‘As Aventuras de Pinóquio’, Carlo Collodi

Se fosse preciso ter mais uma confirmação de que a Disney transforma em bonitos e inspiradores filmes as dramáticas histórias de grandes autores juvenis, estas aventuras do Pinóquio seriam mais do que uma prova disso mesmo. Não há grande humor nesta história, nem beleza. Há sim dor, tristeza, ingenuidade, quase um crime e castigo em si mesmos.

Pinóquio é um boneco de madeira que quer ser um rapaz a sério. Não gosta de ir à escola nem de trabalhar, antes prefere ficar sem fazer nada o dia todo e implorar que lhe dêem comida. Faz muitas asneiras, mas quer mostrar a todos que tem bom coração, apesar de ingénuo e fraco. Passa por muitas aventuras, faz amigos e inimigos e desilude muitas vezes aqueles que ama, quase sem saber bem porquê, tudo porque gostava de ser visto como um rapaz de pele e osso.

Não é fácil ter bom coração e sobreviver à falsidade do mundo. Desde o seu primeiro momento de “vida”, Pinóquio é abordado por todo o tipo de falsos amigos, ou amigos ignorantes quanto às aventuras em que se inserem, e levado a cometer erros atrás de erros - alguns por causa dos outros, outros apenas por si próprio. E, como todos sabemos, cada erro traz consigo consequências.

É assim que vai desiludindo a Menina dos Cabelos Azuis (a Fada Azul), o pai Gepetto, o Grilo Falante e todos aqueles com quem se cruza e que acreditam na sua coragem, na sua lealdade e na sua força de espirito - qualidades que parece apagar quando as más surgem à superfície. E, quando mente, o seu castigo é ser denunciado por um nariz que cresce.

Trata-se de um livro de 1883 que não podia ser mais actual na forma como capta na perfeição o espírito de criança de querer viver a vida ao máximo sem saber como o fazer; a sua vontade de conhecer o mundo, de se aventurar em todas as oportunidades que surgem. A ida de Pinóquio para o País dos Brinquedos, onde sem saberem as crianças se vão, aos poucos, transformando em burros, é uma metáfora dolorosa e bem construída da sua falta de instrução e bondade.

Collodi, com isto, não pretende dizer mal das crianças nem cortar pela raiz todos os seus sonhos, pelo contrário: penso que pretende apenas moderar as suas expectativas e fazê-las ver que o sonho, esse, pode estar nas pequenas coisas. E quando se quer muito uma coisa, quando se sonha com ela e se trabalha para que ela aconteça (porque as coisas não acontecem sozinhas!), elas realizam-se.

Um clássico que já foi adaptado pela Disney ao cinema há… 75 anos. E que continua a ter uma das mais bonitas músicas de sempre em filmes infantis da Disney :)

Comentários