Comer/Beber - Filipe Melo e Juan Cavia
A relação entre o paladar e a memória é (muito bem) explorada nesta aventura em dois pequenos contos que voltou a juntar Filipe Melo e Juan Cavia em torno de uma obra de banda desenhada. 'Comer/Beber' explora duas épocas diferentes, duas texturas e duas histórias, uma real e outra ficcional, que juntas não podiam revelar melhor a importância deste sentido nas recordações que criamos e queremos preservar.
A primeira história, relativa ao 'Beber', é uma história de guerra, de trabalho e de esperança com uma garrafa de champanhe, guardada no cofre de um restaurante para uma ocasião especial, no centro da narrativa e do desenho. Um casal que começa do zero numa nova cidade, que finalmente começa a ter a vida que merecia, e que pela eventualidade da guerra pode perder tudo e ter de começar de novo - sobreviver à vida.
Na segunda história, relativa ao 'Comer', é um doce de infância que está no centro da criação. A tarte da mãe nunca se esquece e é sempre a melhor do mundo inteiro. É por ela que um homem atravessa o país a cumprir um último desejo e não podia ficar mais arrasado com as descobertas que faz e a forma como se deixa emocionar pela história de dois desconhecidos.
O Filipe Melo, que é uma pessoa super fixe, encontra as histórias mais interessantes para serem contadas em novela gráfica. As suas palavras são directas ao assunto e emocionais ao mesmo tempo, e muito bem consolidadas com o desenho de Juan Cavia, que tem uma capacidade única de expressar os sentimentos das personagens através de rostos contorcidos de dor, de pequenas expressões de felicidade.
Há uma grande proximidade entre as suas formas de ver o mundo e contar as histórias, o que resulta num casamento perfeito e num pequeno mas grande livro que vale a pena ler e reler as vezes que se quiser 😊
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