A Casa - Paco Roca
Passamos a nossa vida entre casas, desde aquela em que vivemos o primeiros anos, passando pela nossa primeira casa sozinhos, ou pela que partilhamos com amigos, e depois para a casa onde queremos construir família e nela ficar até ao fm dos nossos dias. Enquanto passamos por elas, elas não passam simplesmente por nós: é nelas que construímos as memórias e onde guardamos a nossa vida nas pequenas gavetas do coração.
Uma casa é assim um reflexo de quem nela vive, que a enche de recordações silenciosas ao longo de muitos anos de vida. Quando o seu ocupante desaparece para sempre, tudo o que fica na casa se mantém intacto - menos tudo o que, com o tempo, tende a deteriorar-se se não for bem cuidado. Esta 'A Casa' fica um ano inteiro à espera de voltar a receber visitas após a morte do seu dono. É nesta altura que os seus três filhos a visitam e nela reencontram e enfrentam as suas memórias, a dor da perda e a inviabilidade de se afastarem da infância.
Paco Roca capta na perfeição esta vida e morte das casas, como a das pessoas, que nelas vai deixando restos de si. É uma história muito pessoal que o autor nos revela nesta novela gráfica recheada de imagens bonitas e melancólicas, com um traço muito simples e onde as palavras quase nunca são necessárias para dar voz à história.
Os três irmãos que visitam 'A Casa' fazem-no de forma muito própria, cada um no seu momento, cada um numa diferente experiência individual do que é regressar a uma casa onde já foram muito felizes e onde as recordações parecem regressar em catadupa à sua memória. Os jantares que o pai organizava, as árvores de que cuidava, as histórias de família que contava. Tudo está contido naquele espaço-tempo do qual não se querem separar, ainda que o que os tenha juntado ali tenha sido mais a venda daquela casa de infância do que a homenagem ao pai um ano após a sua morte.
O desfecho é inevitável e um reflexo do dia-a-dia actual, onde queremos ser capazes de muita coisa mas acabamos por nos perder no meio de tantas memórias que não podemos manter, no meio de tanta correria que nos ajuda a ultrapassar demasiado rapidamente as coisas importantes e a que podíamos dar um pouco mais de valor, sejam sofridas ou amadas, ou ambas. Deixar para trás os anos vividos numa casa que tornámos nossa é difícil e triste, sobretudo quando gostávamos de não ter de fazê-lo.
Um relato emotivo, com o qual todos nos conseguimos identificar, verdadeiramente pessoal, bonito e sentido, que se espelha numa maravilhosa novela gráfica de redenção e homenagem.
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