Manhã Submersa - Vergílio Ferreira
"Sentia que o amor era uma luta e que eu, amarrado de preto, não poderia lutar. A bruscos golpes de cólera, eu erguia-me às vezes sobre o meu desalento. E atirado nela, como numa vergasta, parecia-me que era só abrir a mão para colher o meu sonho de liberdade. Mas o meu esforço esgotava-se antes do fim. Então eu recaía para o meu cansaço e sentava-me à beira da estrada a dizer adeus à vida com o olhar."
'Manhã Submersa', Vergílio Ferreira
Vergílio Ferreira chegou à minha vida para ficar, ao que parece. 'Manhã Submersa' é uma obra de extraordinária profundidade - é bem mais do que se vê à superfície e exige bem mais do que apenas uma leitura para ser minimamente compreendido. Vai ser o objecto de estudo da minha dissertação de mestrado, por isso não quero alongar-me nesta exposição. Contudo, há coisas que têm de ser ditas.
É extraordinário que seja o Borralho de 'Vagão J' a contar esta sua história de infância. É maravilhoso que uma história que podia ser tão linear, de um rapaz de uma família humilde e rural que vai para o Seminário porque ser Padre é o que esperam dele, mas que não tem vocação nem interesse em seguir esse caminho na sua vida, possa ser tão complexa e expandir-se para os seus pensamentos e sentimentos, os seus conflitos mais íntimos, o questionamento de Deus e das coisas.
Não há escrita mais verdadeira, mais pura, que a deste Vergílio Ferreira que escreve de forma tão autobiográfica. Comprado a 0,50€ na Feira da Ladra. Vai ser um prazer que me acompanhe ao longo do próximo ano!
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