A Máquina do Tempo - H. G. Wells
"E eu conservei, para meu reconforto, duas estranhas flores brancas - agora murchas, descoradas, secas e frágeis - para testemunhar que quando a inteligência e a força tiverem desaparecido, a gratidão e uma ternura mútua sobreviverão, ainda, no coração do homem e da mulher."
'A Máquina do Tempo', H. G. Wells
H. G. Wells era um visionário, daqueles meio apocalípticos, meio esperançosos na humanidade. A aventura e a ficção científica são a sua praia - daquelas praias em ilhas desertas, que nos fazem explorar o que existe ou não à sua volta. Voltas na cabeça que estes seus livros oferecem, é o que é. 'A Máquina do Tempo' é a aventura alucinante de um homem, num local desconhecido: o seu próprio planeta, muitos milhões de anos depois da época em que vive.
Seguimos o viajante no tempo, anónimo, misterioso, corajoso, através da sua narração pessoal - os seus pensamentos, sentimentos, a percepção do que vai vendo, das figuras com as quais se vai cruzando, dos simpáticos Elóis aos temíveis Morlocks, passando pela pequena Weena. Cruzada com esta narração, a do primeiro narrador, o que conta a história de como o viajante lhe contou a sua viagem. Acreditar ou não num homem que diz ter estado no futuro e voltado?
E o que o viajante vê é tudo o que o autor teme para a humanidade: a evolução desmedida do Homem, a sua acção sobre a natureza, a frivolidade de um capitalismo que transforma a sociedade em relações de medo e submissão. A sua máquina desaparece e ele teme também ficar ali preso para o resto da vida, mesmo quando conhece Weena e vê nela e nos Elóis um último resquício de humanidade.
"Eu estava no meu laboratório às quatro horas. Então, vivi oito dias... dias tais, como nenhum ser humano viveu anteriormente! Estou quase esgotado, mas não quero dormir antes de lhes ter contado a coisa de uma ponta a outra."
Wells é um bom contador de histórias. Faz lembrar Júlio Verne, nas aventuras megalómanas e nos toques de ficção científica que oferece, mas com uma escrita bem mais atractiva, cuidada, até. É uma narrativa personalizada que nos permite quase estar lá, naquele tempo longínquo, e viver tudo o que ele vive - o que vê, o que pensa, o que sente, sentimo-lo também.
Foi escrito no século XIX, quando o cinema dava os primeiros passos, e a sua linguagem tão cinematográfica não podia escapar às adaptações de que já foi alvo. Para mim foi mais uma boa aquisição da Feira da Ladra. E aquela última frase (a primeira deste post) é o ponto alto, o que de melhor se pode tirar de toda esta experiência.
"Foram estas, juntamente com as minhas, as únicas lágrimas que vi nesta Idade de ouro. Ao vê-las correr pela face delicada, deixei de a aborrecer a respeito dos Morlocks e dediquei-me apenas a banir dos seus olhos estes sinais da herança humana."
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