Lolita - Vladimir Nabokov
"Lolita, luz da minha vida, fogo da minha virilidade. Meu pecado, minha alma. Lo-li-ta: a ponta da mnha língua faz uma viagem de três passos pelo céu da boca abaixo e, no terceiro, bate nos dentes. Lo. Li. Ta."
'Lolita', Vladimir Nabokov
Um dos clássicos da literatura que finalmente peguei e seria capaz de reler vezes e vezes sem conta, pela escrita magnífica que relata uma história diferente do habitual. 'Lolita' é muito mais que uma história de pedofilia ou atracção sexual. É, sobretudo, uma história de amor e ciúme, insólita e quase inocente, que muda as vidas de Humbert e Dolores para sempre.
Contado na primeira pessoa, o romance acompanha a vida de Humbert, um intelectual de meia-idade, desde que, em adolescente, se apaixonou por uma menina de quem foi separado para sempre. Este momento inicial explica a sua atracção por meninas, ou "ninfitas", como se refere a elas ao longo de todo o romance: crianças, pré-adolescentes, nos seus 12/13 anos, que de alguma forma despertam dele uma atracção impossível de ignorar. Dolores Haze é uma delas e talvez a que mais apaixona Humbert desde logo, em particular pela sua personalidade extrovertida e até mesmo atrevida. Por ela casa com a sua mãe, procurando assim estar mais próximo da sua "ninfita" de eleição. E é com ela que, mais tarde, usando como mais-valia a sua condição de padrasto, viaja pelo país de motel em motel, numa relação amorosa e recheada de desconfianças que os aproxima e afasta cada vez mais um do outro.
'Lolita' está incrivelmente bem escrito, desde estas primeiras frases. Nabokov consegue contar esta história de desejo sem por uma vez utilizar termos óbvios ou comuns que indiquem qualquer tipo de luxúria. É sofisticado na forma como descreve a relação de Humbert e Lolita, tornando-a quase bela aos nossos olhos, ainda que a condenemos à partida por tudo o que representa de errado. De certa forma é como se nos colocássemos na pele do narrador e conseguíssemos ignorar tudo o que, conscientemente, nos enoja naquela relação, vendo-a através dos seus próprios olhos como algo bonito, fruto do seu amor e da sua necessidade de estar com Lolita e de a ter só para si.
Para Humbert, Lolita é um anjo, uma flor, uma ninfita pura e bela que tornava tudo à sua volta mágico e mais feliz. E continuou a sê-lo, pelo menos na sua imaginação, mesmo depois de todos os ciúmes e desconfianças que o consumiam. Mesmo percebendo que talvez o seu amor nunca tenha sido correspondido, não da mesma forma pelo menos. E mesmo Humbert nem sempre é visto por nós como um criminoso à solta - é verdade que quase "rapta" Lolita e deseja secretamente a morte da sua mãe, mas fará isso de si um criminoso, quando a sua relação com ela é (inicialmente, pelo menos) consentida?
São, no entanto, questões pouco relevantes ao olharmos para este romance como leitores que somos, sem moralismos. Também julgamos Madame Bovary por ser adúltera, mas não julgamos o seu autor (pelo menos na actualidade) por lhe ter dado protagonismo. Também Humbert nos fascina enquanto personagem, e talvez Lolita ainda mais, na forma como Nabokov os descreve e à sua viagem episódica em busca de algo que talvez nunca fossem encontrar.
É sem dúvida um romance único e que merece estar entre os clássicos do século XX, para ler numa idade mais adulta e madura para lhe poder ser dado o devido valor.
Contado na primeira pessoa, o romance acompanha a vida de Humbert, um intelectual de meia-idade, desde que, em adolescente, se apaixonou por uma menina de quem foi separado para sempre. Este momento inicial explica a sua atracção por meninas, ou "ninfitas", como se refere a elas ao longo de todo o romance: crianças, pré-adolescentes, nos seus 12/13 anos, que de alguma forma despertam dele uma atracção impossível de ignorar. Dolores Haze é uma delas e talvez a que mais apaixona Humbert desde logo, em particular pela sua personalidade extrovertida e até mesmo atrevida. Por ela casa com a sua mãe, procurando assim estar mais próximo da sua "ninfita" de eleição. E é com ela que, mais tarde, usando como mais-valia a sua condição de padrasto, viaja pelo país de motel em motel, numa relação amorosa e recheada de desconfianças que os aproxima e afasta cada vez mais um do outro.
'Lolita' está incrivelmente bem escrito, desde estas primeiras frases. Nabokov consegue contar esta história de desejo sem por uma vez utilizar termos óbvios ou comuns que indiquem qualquer tipo de luxúria. É sofisticado na forma como descreve a relação de Humbert e Lolita, tornando-a quase bela aos nossos olhos, ainda que a condenemos à partida por tudo o que representa de errado. De certa forma é como se nos colocássemos na pele do narrador e conseguíssemos ignorar tudo o que, conscientemente, nos enoja naquela relação, vendo-a através dos seus próprios olhos como algo bonito, fruto do seu amor e da sua necessidade de estar com Lolita e de a ter só para si.
Para Humbert, Lolita é um anjo, uma flor, uma ninfita pura e bela que tornava tudo à sua volta mágico e mais feliz. E continuou a sê-lo, pelo menos na sua imaginação, mesmo depois de todos os ciúmes e desconfianças que o consumiam. Mesmo percebendo que talvez o seu amor nunca tenha sido correspondido, não da mesma forma pelo menos. E mesmo Humbert nem sempre é visto por nós como um criminoso à solta - é verdade que quase "rapta" Lolita e deseja secretamente a morte da sua mãe, mas fará isso de si um criminoso, quando a sua relação com ela é (inicialmente, pelo menos) consentida?
São, no entanto, questões pouco relevantes ao olharmos para este romance como leitores que somos, sem moralismos. Também julgamos Madame Bovary por ser adúltera, mas não julgamos o seu autor (pelo menos na actualidade) por lhe ter dado protagonismo. Também Humbert nos fascina enquanto personagem, e talvez Lolita ainda mais, na forma como Nabokov os descreve e à sua viagem episódica em busca de algo que talvez nunca fossem encontrar.
É sem dúvida um romance único e que merece estar entre os clássicos do século XX, para ler numa idade mais adulta e madura para lhe poder ser dado o devido valor.
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