V de Vingança - Alan Moore e David Lloyd
Uma distopia em formato de novela gráfica. Talvez seja a melhor forma de descrever este 'V de Vingança' sem revelar pormenores do seu enredo criteriosa e magicamente criado por Alan Moore. Mais uma prova de que a banda desenhada é para todas as idades e pode ser um veículo perfeito para poderosas histórias de ficção com muito de verosímil.
Em 'V de Vingança', Inglaterra vive sob domínio de um regime totalitário, com câmaras que vigiam cada movimento das pessoas e organismos estatais que controlam tudo o que acontece no país. V, um anárquico anónimo que usa uma máscara, destrói todos os que, no passado, destruíram a sua vida, enquanto aos poucos procura fazer a revolução e inspirar uma jovem, Evey Hammond, a continuar a sua luta pela liberdade.
É uma realidade distópica e alternativa (dizer futurista não é propriamente correcto) aquela que argumentista e ilustrador retratam nesta banda desenhada. Não há liberdade individual nem de expressão, não há justiça nem respeito pelas pessoas. Quando V inicia a sua revolução - que é também pessoal -, a anarquia instala-se, tal como pretendia, o que aperta o cerco dos governantes mas também lhes retira credibilidade.
E era exactamente esta anarquia que pretendia, como conta muitas vezes a Evey, a jovem que de certa forma resgatou das ruas para fugir à prostituição, à demência e à ditadura fascista. Porque depois da destruição tem de vir sempre uma nova construção, de raiz, pelos que têm bom coração e sabem o que é melhor para o renascimento democrático de um país.
'V de Vingança' lembra muito o regime totalitário de '1984' e tem aquela capacidade de união e força, de identificação das pessoas e de incitação à revolta que lembra também 'Os Jogos da Fome'. Por muito que os países e regimes políticos em que vivemos não sejam ditatoriais como os descritos (ainda que possam já o ter sido no passado e haja actualmente, em outros lugares do mundo, ainda, regimes do género), conseguimos identificar-nos com esta necessidade de revolução e somos capazes de olhar à nossa volta de uma forma mais crítica em relação às condicionantes das nossas vidas.
Não será sempre esse o papel ideal da literatura - fazer com que nos apercebamos do que nos rodeia e com que olhemos a realidade com outros olhos?
O traço elegante mas de cores frias, verdadeiramente cru e cortante, de David Lloyd, transporta-nos igualmente para este mundo alternativo que podia acontecer em qualquer lado, em qualquer altura, e cuja verosimilhança nos deixa totalmente sem palavras a cada capítulo. É sem dúvida uma das obras essenciais de banda desenhada e obrigatória para quem gosta de quadradinhos mais sérios.
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