Há Mais Mundos - José Régio
"No próprio sonho somos punidos. Que dura a punição? Quando muito, o resto do sonho. Acordamos, tudo se esvai. Era sonho! O nada ficou em nada."
Há Mais Mundos, José Régio
Quando compramos livros, habitualmente, é porque gostamos da sinopse, do autor, ou alguém nos recomendou aquele pedaço de literatura por achar que iríamos gostar. E depois há os raros casos - para mim, pelo menos - em que compramos livros por gostarmos das capas. Nunca me acontece, na verdade, mas desta vez, numa qualquer feira da ladra, foi a capa que me fascinou. Tem algo de D. Afonso Henriques meet Amália Rodrigues, um toque moderno com aquele castelo ao longe, no alto, como se encerrasse toda a dor e toda a esperança da história de Portugal num só desenho.
Comprei-o única e exclusivamente com o coração, por isso (recuperando o post anterior!). Mal dei atenção à sinopse, mal quis saber quem era o autor. Como nunca tinha lido nada de Régio, acabei por achar que seria uma bela maneira de começar. E ao lê-lo deparei-me com uma série de contos, muito diferentes entre si, mas com um toque comum, qualquer coisa que não se vê, qualquer coisa que serve de cola entre cada bocadinho de história, cada personagem bem característica da alma portuguesa. Neste aspecto, a mensagem que a capa me transmite está um bocadinho presente.
São boas histórias, boas metáforas da vida humana, que vão dando a conhecer os laivos existencialistas de Régio, misturados com um realismo bastante fabulástico, por oferecerem estas tais mensagens especiais no final da leitura. Não me fascinou tanto quanto a capa - talvez tenha elevado demasiado as expectativas! -, mas ainda assim cumpriu, fez-me gostar um bocadinho mais da variedade da literatura portuguesa do século XX e destes autores maravilhosos que o compuseram.
"Uma das causas da perenidade de certas obras, ou da sua resistência ao tempo, é manterem-se enigmáticas e dúbias; conservarem alçapões; possibilitarem, através das gerações e das personalidades, interpretações muito diversas."
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