Carnet de Voyage - Craig Thompson

Craig Thompson habituou-nos a novelas gráficas com desenhos belíssimos e histórias ricas. 'Carnet de Voyage', não sendo uma obra de ficção, é um diário de viagem muito pessoal e que o acompanhou num período difícil da sua vida. Uma viagem em torno de si mesmo, que tem como cenário algumas cidades europeias e africanas e como protagonistas algumas das pessoas fascinantes com quem se foi cruzando.

E são, sem surpresa, desenhos maravilhosos. Craig Thompson desenha não só as pessoas que conheceu e as do seu passado como os locais inesquecíveis por que passou, dos mais urbanos aos menos desenvolvidos. É uma viagem em torno da Europa e de Marrocos, mas também de fuga ao seu passado: o autor decidiu empreender esta viagem depois de 'Blankets', em que conhecemos a história do seu primeiro amor. O que explica a sua melancolia constante, as vozes que ouve dentro de si e que não são só fruto da má-disposição das viagens.

O boneco mais fofinho é mesmo a diarreia, o que mostra como o autor consegue cativar-nos com a sua ironia, com tanto de humor como de drama na sua história. É um momento de ultrapassagem, este em que empreende a sua viagem. E permite-nos acompanhar, lado a lado, tudo o que de belo e trágico esta viagem teve. A saudade que vai partindo e a que se vai criando à medida que vai deixando cada um dos locais que visita. As novas experiências que vive e que lhe vão tirando, aos poucos, aquele cansaço e sentimento solitário que o acompanha.

Esta edição tem ainda um update, 12 anos depois, em que Craig Thompson ilustra uma epsécie de epílogo à sua viagem de três meses à luz destes muitos anos de separação. Sente-se egoísta, mas ao mesmo tempo tudo o que ali escreveu e desenhou era muito verdadeiro para si na altura. Era o que sentia, e mais não lhe podíamos pedir que partilhasse connosco. Ainda que sintamos, neste caso em particular, que escrever e desenhar tenha sido mais uma espécie de catarse do que de partilha com o leitor, do que com uma intenção real de publicação. Ainda que fosse uma encomenda. Nunca teriam esperado que o produto final fosse assim, tão pessoal e intransmissível.

E é isso que Thompson nos faz sentir sempre: que entramos na sua cabeça e vemos o que ele vê, acreditamos no que nos conta como se tivéssemos sido nós a vê-lo. Ainda que prefira a riqueza gráfica e histórica de 'Habibi' e a sensibilidade de 'Blankets', esta viagem não lhes fica atrás na sua mestria em contar histórias.

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