Gramática da Fantasia - Gianni Rodari
"Inventar histórias para crianças e ajudá-las a inventar histórias sozinhas (...) não para que todos se tornem artistas, mas para que ninguém seja escravo."
'Gramática da Fantasia' - Gianni Rodari
Foi talvez a mais impulsiva das minhas compras na Feira do Livro de Lisboa este ano. Um livro pelo qual me apaixonei, literalmente, à primeira vista, e que me apaixonou novamente a cada página, como a imaginação faz às crianças a cada história inventada.
Gianni Rodari reune neste pequeno livro pedagógico a sua aprendizagem do ensino primário às crianças, fruto do seu interesse pela literatura infantil e das escolas italianas em que leccionou. Contando histórias às crianças, descobriu que elas também tinham muitas para lhe contar. E muitas perguntas para fazer, como é típico das crianças, entre as quais: "Como se inventam histórias?". A sua maior descoberta é a existência destas histórias e desta capacidade de imaginar e criar que existe dentro de cada criança.
Diz logo desde o início que, apesar do título, isto não é uma gramática da fantasia. Ainda não existe documentação e estudos suficientes para fazê-lo, se é que teorizar sobre a imaginação das crianças alguma vez será possível. Ainda assim, é um exercício muito interessante sobre a mente infantil, sobre a importância da literatura e da criatividade no crescimento enquanto pessoas e na aprendizagem escolar, e sobretudo uma mostra de tudo o que está errado na educação primária - que mais do que promover esta fantasia a oprime, numa idade muito pequena, em nome da correcção gramatical, da perfeição dos ditados e da ditadura da 'resposta certa'.
A cada capítulo revela vários processos de estimulação da criatividade nas crianças (e em todos nós!) e possíveis exercícios para os professores incentivarem a leitura e a escrita na escola, como o "binómio fantástico" (em que temos de juntar duas palavras que à primeira vista não têm nada a ver) ou a descrição do que está à sua volta (a mesa de jantar, o quarto, etc.). Damos por nós a criar as nossas próprias histórias e a mergulhar neste universo que nos leva novamente para os primórdios da vida, para a inocência de se ser criança.
"Para que mais serve a história? Para construir estruturas mentais, para estabelecer relações como 'eu e os outros', 'eu e as coisas', 'as coisas reais e as coisas inventadas'. Serve para calcular as distâncias no espaço ('longe e perto') e temporais ('uma vez e agora', 'antes e depois', 'ontem hoje e amanhã'). O 'era uma vez' das histórias não é diferente do 'era uma vez' histórico, mesmo quando a realidade da história, como a criança descobre logo, é diferente da realidade em que ela vive."
A cada capítulo revela vários processos de estimulação da criatividade nas crianças (e em todos nós!) e possíveis exercícios para os professores incentivarem a leitura e a escrita na escola, como o "binómio fantástico" (em que temos de juntar duas palavras que à primeira vista não têm nada a ver) ou a descrição do que está à sua volta (a mesa de jantar, o quarto, etc.). Damos por nós a criar as nossas próprias histórias e a mergulhar neste universo que nos leva novamente para os primórdios da vida, para a inocência de se ser criança.
Entramos pela janela - sempre os caminhos secundários para sairmos da nossa zona de conforto e podermos ir mais além - e encontramos esta casa recheada de possibilidades para escolhermos e construirmos as histórias à nossa maneira. As histórias são uma forma de enfrentar medos, de conhecer o mundo real, de perceber melhor quem nos rodeia. E sobretudo para as crianças, são muitas vezes o seu primeiro contacto com o seu papel no mundo.
Um livro verdadeiramente inspirador para quem quer que o leia - miúdos ou graúdos, educadores ou simples interessados na arte de inventar e fantasiar. Como eu :) A melhor compra mais impulsiva de sempre. Uma das minhas obras-primas de prateleira para reler sempre que precisar de uns pós mágicos de inspiração!
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