Aventuras de Tom Sawyer - Mark Twain
"Chegou a manhã de sábado. Era verão e tudo estava fresco, brilhante e cheio de vida. Havia uma cantiga em cada coração e, se o coração tinha poucos anos, essa cantiga vinha até aos lábios."
Aventuras de Tom Sawyer, Mark Twain
'Aventuras de Tom Sawyer' são as aventuras de um rapaz, enquanto é rapaz - pois se a história continuasse, como refere o autor, eventualmente seriam as aventuras de um homem. De uma forma descontraída, quase com um sorriso nos lábios a cada criancice e ao mesmo tempo de coração apertado em cada aventura, vamos seguindo Tom, os seus sonhos, as amizades e as suas peripécias.
Tom Sawyer é uma criança como todas as outras, que só quer brincar, divertir-se, estar com os amigos e viver aventuras emocionantes. É por isso que foge da aldeia para ser pirata, que se mete em apuros com Becky na gruta, que quer encontrar o tesouro e enriquecer - mesmo que para isso tenha de perseguir homens muito perigosos.
A história tem um tom bastante menos infantil do que poderíamos esperar à primeira vista. Tom é um rapaz esforçado, que tem mesmo de trabalhar para ajudar a tia Polly, o meio-irmão Sid e a prima Mary, e que ainda tem de ir à escola. Está farto da aldeia, só quer fugir dali para sempre - da família, dos colegas da escola que não gostam dele, da vida de trabalho que leva.
Só se identifica com Huckleberry Finn, o companheiro de todas as aventuras, e Joe Harper, que apesar de ser o mais temeroso também partilha o espírito rebelde do amigo. Estes são os rapazes aos quais Twain dá vida, recuperando a sua própria juventude na sua rebeldia, nas aventuras que vivem e nos perigos que atravessam, sempre corajosos e ambiciosos, mas ao mesmo tempo supersticiosos, com um receio enorme do que lhes vai acontecer. Qual seria a piada das aventuras se nelas não existisse medo?
Deixamo-nos facilmente levar por esta jovialidade toda, pela escrita
fluida da acção, que não deixa de dar relevância aos sentimentos
destes rapazes: o amor, ainda demasiado simples e fugaz; o medo,
anulado pela adrenalina; a culpa, ao fugirem de casa e assistirem ao seu
próprio funeral; até mesmo a bondade, porque no fundo todos eles têm bom
coração e tudo o que fazem é, também, em nome das pessoas de quem gostam.
"Pouco a pouco a pequena cedeu e afastou as mãos, mostrando a cara vermelha por ter estado a lutar. Então Tom beijou-lhe os lábios e disse: - Agora está tudo pronto, Becky, e depois disto já sabes que nunca mais podes amar ninguém senão a mim, nem casar com ninguém senão comigo, para sempre, toda a vida. Ouviste?"
"Pouco a pouco a pequena cedeu e afastou as mãos, mostrando a cara vermelha por ter estado a lutar. Então Tom beijou-lhe os lábios e disse: - Agora está tudo pronto, Becky, e depois disto já sabes que nunca mais podes amar ninguém senão a mim, nem casar com ninguém senão comigo, para sempre, toda a vida. Ouviste?"
Para além de tudo isto, há uma ideia que permanece na história: eles regressam sempre a casa. Por muito rebeldes que sejam, por muitas aventuras que queiram viver, há sempre algo que os liga a São Petersburgo (uma pequena aldeia fictícia, nos EUA, que Twain cria para as suas personagens) e à família que lá deixam. Tom, em particular, mostra bem esta dívida que tem para com a tia Polly e o amor que devota à família. Já Huck agarra-se à família que criou, aos amigos de todas as aventuras, às pessoas que o tentam ajudar a ser a pessoa boa que tem dentro de si.
Há aqui uma complexidade maior do que parece, porque numa história que podemos tomar como juvenil, facilmente entendida pelos mais novos e com peripécias habituais das crianças - e com as quais estas se conseguem identificar -, a sua dimensão mais profunda consegue mostrar-nos uma certa realidade dramática debaixo de tudo isto, consagrando ao mesmo tempo um lugar importante à ingenuidade e à inocência típicas da infância.
E, no final, é como se todas as aventuras pudessem ter sido sonhos de criança, de um Mark Twain arrependido de não as ter vivido - ou, quem sabe, que as viveu, na realidade ou na imaginação. E é como se Tom, apesar de pirata e ladrão em sonhos, de corajoso e rebelde com os amigos, no fundo gostasse mais de sonhar estas aventuras, ou vivê-las quase 'das 9 às 5', para de noite poder repousar junto da família, poder amar Becky e ser o herói da sua própria história.
P.S. - Agora que está feito o primeiro contacto com Mark Twain, da Feira do Livro não vai escapar a aquisição das 'Aventuras de Huckleberry Finn'!! :)
E, no final, é como se todas as aventuras pudessem ter sido sonhos de criança, de um Mark Twain arrependido de não as ter vivido - ou, quem sabe, que as viveu, na realidade ou na imaginação. E é como se Tom, apesar de pirata e ladrão em sonhos, de corajoso e rebelde com os amigos, no fundo gostasse mais de sonhar estas aventuras, ou vivê-las quase 'das 9 às 5', para de noite poder repousar junto da família, poder amar Becky e ser o herói da sua própria história.
P.S. - Agora que está feito o primeiro contacto com Mark Twain, da Feira do Livro não vai escapar a aquisição das 'Aventuras de Huckleberry Finn'!! :)
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