A Mulher Louca - Juan José Millás

"Durante os trajectos de ida e voltas dormitava um pouco ou falava com as pessoas imaginárias que apareciam dentro da sua cabeça e cuja procedência ignorava. Talvez, dizia ela a si mesma em jeito de explicação, venham de um mundo de gente sem corpo que necessita, para viver, de se meter na cabeça das pessoas de carne e osso."
'A Mulher Louca', Juan José Millás


Há frases que resumem os livros de que fazem parte, e esta é uma delas. Uma mulher que vive quase num universo imaginário, que fala com frases, que as trata, que as transforma para lhes dar o sentido que elas pretendem. Uma médica da língua (?) que, também ela, precisa de alguma 'medicação' para curar esta sua loucura.

São, na verdade, duas mulheres loucas: Julia e Emérita, a doente terminal acamada que Millás, o autor, na primeira pessoa, vai visitar para talvez ver nela um possível romance. E é na outra mulher louca, em Julia, que encontra a essência do romance que procurava, apesar de o seu bloqueio criativo não lhe permitir desenvolver esta ideia. Acompanhamos as suas histórias, os seus segredos, as loucuras - também de Millás, que se torna personagem da sua própria história, que nas conversas com a psicoterapeuta se vai revelando - também ele - uma eterna confusão entre a realidade e a ficção.

Um romance invulgar, que nos faz pensar na forma como encaramos as pessoas que encontramos na nossa vida e, sobretudo, como olhamos o mundo à nossa volta - como um romance, como se fizéssemos parte da ficção, como se a realidade fosse mais mítica do que tudo o que é falso?

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