Nenhum Olhar - José Luís Peixoto
A primeira leitura de José Luís Peixoto. Não era um dos livros da minha wishlist, mas era o que estava à mão. 'Nenhum Olhar' é uma história com histórias, de pessoas, de épocas, de repetições - muitas repetições. É um romance para ser lido e assimilado com calma, a cada pensamento mais fugaz, mas que se repete; a cada erro, olhar ou pensamento mais demorado.
José ouve as palavras do Diabo mas não quer acreditar que a mulher está com o Gigante. 30 anos mais tarde é o seu filho, também José, que está com a mulher do primo Salomão, avisado pelo Diabo no mesmo café onde todos os parecem olhar de lado. E à sua volta estão personagens como os gémeos Elias e Moisés e Gabriel, o centenário que atravessa as duas épocas como se o tempo não passasse por ele. É o mais sábio, o mais consciente, o melhor conselheiro e o melhor homem.
Na escrita de Peixoto não há discurso direto se não em pensamentos corridos, não há um narrador presente nem um narrados ausente - há ambos, porque são vários os narradores e variadas as formas sob as quais estes surgem no romance. Num momento as palavras são de uma personagem, no seguinte são de outra. Confundimo-nos, voltamos atrás, reflectimos. Nem sempre é uma caminhada má, esta de dar uns passinhos atrás antes de avançar.
Não há regras, é o que quero dizer. O autor escreve o que pensa, como se descarregasse tudo de uma vez, toda a enxurrada de ideias e pensamentos que não podemos parar. É o que tem de ser. É confuso, mas tem o seu quê de originalidade. Repete-se constantemente, recorda pensamentos já partilhados, reformula-os. E o diabo sempre à espreita. E a voz dentro da arca sempre a aconselhar. E o homem que escreve e vive num quarto sem janelas a escrever, a escrever, a escrever.
Lembra Saramago nesta escrita peculiar, e lembra Valter Hugo Mãe nesta forma épica de retratar a morte, a dor, as falhas e os erros dos homens. É tudo tão trágico, tão próximo de nós. E ao mesmo tempo tem o seu quê de ficção científica, que nos mostra como até mesmo as coisas que não existem, e em que provavelmente não acreditamos, nos comovem. Nos tornam ainda mais humanos, na nossa insignificância e pequenez.
Estreei-me com José Luis Peixoto com "Uma Casa na Escuridão". Trantornou-me, em vários sentidos, até num bom e favorável.
ResponderEliminarTenho que o conhecer novamente. Suspeito que tem mais para me oferecer. A ver vamos.
Gostei muito da tua opinião e já sou seguidor do blogue...!
Nenhum Olhar já suscita o meu interessa há vário tempo... aliás, teve um começo muito auspicioso: foi distinguido com o Prémio José Saramago!
Miguel, obrigada pelo teu comentário e por teres visitado este cantinho! Ainda não li mais nada dele, mas fiquei curiosa com este livro, tenho de ver isso. Realmente, ter a honra de ter o nome de Saramago associado a um autor é mesmo óptimo!
EliminarObrigada mais uma vez e parabéns pelo teu blog também, gosto sempre de encontrar outros apaixonados pela leitura :)
De nada! Sim, o prémio José Saramago é realmente prestigiante.
ResponderEliminarRegressando ao JLP, acabei de ler O Cemitério de Pianos hoje. Adorei. Se estiveres intrigada em saber o que achei, passa pelo meu blogue. ( http://rabiscosdoluar.blogspot.pt/ )
Vemo-nos por aí! :)