Sex and the City - Candace Bushnell

"Welcome to the Age of Un-Innocence. The glittering lights of Manhattan that served as backdrops for Edith Wharton's bodice-heaving trysts are still glowing - but the stage is empty. No one has breakfast at Tiffany's, and no one has affairs to remember - instead, we have breakfast at seven A.M. and affairs we try to forget as quickly as possible. How did we get into this mess?"
'Sex and the City', Candace Bushnell

Sim, gosto da série e achei que o livro ia ser igual. Não, não tem nada a ver. Esta frase cativou-me, logo no início, e pensei que a viagem ia ser igualmente divertida e romantizada. Deparei-me, em vez disso, com um livro heterogéneo de crónicas, muitas sem sentido ou ligação, e de personagens estereotipadas sem grande interesse de conhecer. A ideia é boa e, provavelmente, uma novaiorquina de meia idade familiarizada com o estilo de vida da autora vai identificar-se com as suas crónicas. A meu ver, contudo, a concretização roça o preconceito e dramatiza as personagens sem lhes dar a profundidade necessária.

Sim, ainda estou num misto de gostar e não gostar, embora o balanço final não me pareça assim tão positivo - o que se deve, também, à desilusão inerente da relação natural com a série televisiva. Carrie é, na série, talvez a personagem mais serena, a que tem um homem por episódio mas, ainda assim, parece ter menos dramas na cabeça - como Charlotte é a certinha, Miranda a menos emocional e Samantha a incapaz de se apaixonar. No livro, Carrie também tem as suas dúvidas, o homem que lhe faz perder a cabeça - Mr. Big -, mas, no final, a imagem que temos dela é a de uma mulher que não se compreende, nem aos seus sentimentos, e que vive constantemente as mesmas relações, sem conseguir efectivamente comprometer-se a longo-prazo.

E Charlotte, Miranda e Samantha não existem, pelo menos não como n'O Sexo e a Cidade televisivo. São apenas algumas das muitas personagens que Candace Bushnell dá a conhecer através dos seus relatos. Diz-se que Carrie é a personagem que melhor a representa mas, contrariamente à série, nem sequer é Carrie quem narra as histórias - e só na segunda parte da obra é que começamos a seguir a sua vida amorosa com Big, quase exclusivamente. A primeira parte são histórias desconexas, muitas delas bastante interessantes até, com entrevistas a pessoas experientes nos assuntos tratados - sobre amor, sexo, homens e mulheres, a vida em Nova Iorque.

Uma coisa é certa: é uma escrita sem tabus, no sentido de falar sobre tudo, independentemente da delicadeza social que alguns assuntos merecem, e apesar do preconceito paradoxal que acaba por englobar através da caracterização de homens e mulheres de forma bastante unívoca. A 'crónica de costumes' que alguns comparam a Jane Austen, mas no nosso tempo, tem o seu sentido. Candace Bushnell apresenta-nos mulheres casadas, divorciadas, solteironas, e homens de todos os géneros e feitios. Mas não digam que ela é, de facto, uma Jane Austen. Há muita falta de profundidade neste livro, mesmo com martinis à mistura e o glamour característico de Nova Iorque.

Ainda assim, dei por mim com bastantes páginas dobradas, o que significa que há frases e histórias que gostarei de reter. O Christmas Carol da Carrie, por exemplo, é um episódio interessante e conceptualmente bastante original, envolvendo os fantasmas dos Natais da 'protagonista' num sentido muito dickensiano. Mas pronto. Gosto mais da série, das quatro amigas, do romance não tão fútil, de Aidan e Mr. Big e da Carrie como a Sarah Jessica Parker a representou. Continuo viciada e acho que já vi todos os episódios.

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