Resgate no Tempo - Michael Crichton

"A finalidade da História é de explicar o presente - para dizer que o mundo à nossa volta é como é. A História diz-nos aquilo que é importante no nosso mundo e como é que isso aconteceu. Diz-nos porque é que as coisas que valorizamos dão as que devíamos valorizar. E diz-nos aquilo que deve ser ignorado ou desprezado. Isto é o verdadeiro poder - um poder profundo. O poder para definir toda uma sociedade."
'Resgate no Tempo', Michael Crichton

Nunca fui muito fã de ficção científica, pelo menos no que normalmente lhe associamos: máquinas, robôs, lasers e coisas esquisitas. Mas quando esta surge num determinado contexto, apoiada numa história coesa e bonitinha, é totalmente diferente. Em 'Resgate no Tempo', temos uma nova tecnologia que permite viajar para universos paralelos e, assim, revisitar a própria História, podendo até modificá-la. Ou talvez estivesse tudo destinado, simplesmente, a acontecer assim. Nunca o saberemos.

Quando recebem uma mensagem do Professor Johnston, vinda da época histórica que vão descobrindo, aos poucos, através da sua actividade, três arqueólogos são levados a viajar para Castelgard do século XIV para o resgatar. Chris, Kate e Marek são historiadores, pouco sabem de tecnologia quântica e marcadores que levam a um retorno ao presente; mas ao chegarem apercebem-se também que, apesar de tudo o que já sabiam sobre a Idade Medieval, a realidade supera as expectativas: a violência, a guerra entre Oliver e Arnaut, as figuras históricas. E a viagem torna-se uma luta pela sobrevivência.

É uma história com nuances. Por um lado, tem explicações técnicas que exigem bastante atenção - e até uma pesquisa mais demorada - para compreender bem onde entram as descobertas científicas e onde começa a ficção. Por outro, por vezes perde-se um pouco no cliché, em momentos como os salvamentos de Chris. E ao mesmo tempo valoriza o papel da mulher mesmo numa época em que este era totalmente desprezado, por exemplo através de Lady Claire.

"Nunca ninguém desenvolveu qualquer tipo de nova tecnologia para benefício dos historiadores - até agora."

Acima de tudo, é um livro de acção, com passagens que não nos permitem abandonar a página sem ler até ao final do capítulo. É uma aventura destes arqueólogos na época em que são especialistas - um período que, enquanto aficcionados de história, sempre quiseram ter a oportunidade de conhecer. E agora têm.

Destaco talvez Marek, a que me parece a personagem mais consistente e interessante de todo o livro. É um homem forte, corajoso, verdadeiramente apaixonado pela história de Castelgard, La Roque, Saint-Mère, Oliver, Arnaut. Ele fala as línguas da época, ele sabe tudo o que aconteceu, cronologicamente, e conhece todas as 'personagens' importantes. Tem uma ligação tão forte àquele tempo que o seu destino é bem capaz de estar ligado a ele para sempre. Leiam.

Michael Crichton leva-nos também numa viagem às nossas origens, ao que há de mais primitivo nos homens. Podemos até dizer que é de uma forma crua que nos mostra esta realidade, sem juízos de valor explícitos, embora com alguns implícitos. A emoção do início ao fim leva-nos a querer lê-lo de uma assentada - e, no final, parece que tudo acontece demasiado depressa e queríamos que a viagem durasse um pouco mais. Ou, como ele diz:

"Na realidade o tempo não passa; nós é que passamos. O tempo em si é invariante. É apenas."

Conheci-o, pela primeira vez, através do filme homónimo, que infelizmente não lhe faz justiça. Tem ligeiras mudanças, concentra-se sobretudo no romance e perde bastante na acção e na explicação científica. Não deixa de entreter e de ser emocionante - é um livro essencialmente visual -, com alguns pormenores interessantes. Afinal de contas, fez-me apaixonar pela história. Mas fica aquém do livro, como acontece geralmente com as adaptações. Por isso a recomendação recai sobretudo sobre 'Resgate no Tempo'. História é também uma das minhas paixões e é sempre bom quando a podemos unir à literatura, neste caso com um toque de ficção científica que a torna ainda mais emocionante.

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