Blankets - Craig Thompson

"As nossas cartas eram um namoro - de notas tímidas - e embalagens perfumadas transbordando de flores e poemas, cassetes com canções de amor,  e doces nadas de liceu."
'Blankets', Craig Thompson

Entre uma colcha especial e outros lençóis, 'Blankets' insinua-se nas nossas vidas como um livro que quer permanecer para sempre. Porque fala da vida, das vidas de todos nós, de uma forma simples e bela que nos toca muito. Uma novela gráfica que tem os ingredientes certos para um romance mas que nem precisa de palavras, muitas vezes, para nos transmitir sentimentos.

Craig Thompson escreve e desenha com base nas suas vivências, o que também acontece neste 'Blankets', sobre o primeiro amor e o início da vida adulta. Craig vive com os pais e o irmão, Phil, com quem nem sempre mantém a melhor relação, no Wisconsin, numa comunidade devota. Quando conhece Raina, apaixona-se perdidamente e acredita que o primeiro amor é para sempre. Este período da sua vida em que lida com um amor quase impossível, a distância, todas as mudanças inerentes à ida para a Universidade, Craig começa também a questionar a sua fé e a sentir o que defini algures como 'dores de crescimento'.

E são mesmo dores de quem tem de crescer à pressa, de quem quer crescer mas não consegue ainda, de quem se quer libertar de tudo o que crescer tem de doloroso. Como a vida no geral, aliás. Porque nunca deixamos de crescer e sofrer e aprender e repetir os erros e as dores.

Craig é feliz durante um tempo, é feliz com Raina, quer que ela faça sempre parte da sua vida. E ela parece querer o mesmo. Mas vivem longe, mas Raina tem uma vida familiar difícil e precisa de estar junto dos irmãos, mas Craig tem de ir para a faculdade e seguir com a sua vida, mas tem de seguir o que os pais consideram correcto segundo os ditames da religião. Mas Craig não quer nada disso; só sabe que ama Raina e quer estar sempre com ela. Não há amores impossíveis quando o amor é verdadeiro. Acho que isso diz tudo sobre o primeiro amor inexperiente, ingénuo e impossível de prever num período tão difícil da vida como os 18 anos.

A colcha que Raina faz para Craig com retalhos de outros tecidos, com muito amor a guiar a costura, dá o mote para este pedaço da sua vida que o autor nos dá a conhecer nesta banda desenhada recheada de emoção. É um objecto que nos orienta na sua relação com Raina, na sua descoberta do amor e da dor, na alegria e na desilusão. Todos o percebemos eventualmente e Craig tem de o perceber também no final desta grandiosa obra: a vida não se resume ao primeiro amor, até porque o nosso eu não se resume ao que era nessa altura. E a fé, como tudo na vida, tem de ser equilibrada entre a religião e a realidade.

'Blankets' é para mim mais uma obra prima de Craig Thompson, a par de 'Habibi', com uma sensibilidade incapaz de nos deixar indiferentes e uma capacidade única de tratar os grandes temas da vida com beleza e crueldade em simultâneo, como a vida faz connosco também. Obrigada Craig por expressares tão bem o que nos vai na alma.

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