Um Crime no Expresso do Oriente/O mistério de Listerdale - Agatha Christie

"- Entretanto, seria um autêntico argumento para um romance, meu amigo. Cerca-nos gente de todas as classes e nacionalidades. Durante três dias, essas pessoas, estranhas umas às outras, estarão reunidas, comendo e dormindo sob o mesmo tecto, sem se poderem separar. No fim esse prazo, cada qual tomará o seu caminho e talvez nunca mais se tornem a ver."
'Um Crime no Expresso do Oriente', Agatha Christie

Apesar da semelhança da senda policial, Agatha Christie continua a surpreender-me a cada nova leitura. Há na sua escrita mistério, inteligência e uma enorme capacidade de nos envolver nas vidas das personagens. Se os contos d'O Mistério de Listerdale' mostram a sua versatilidade nas histórias criadas, 'Um Crime no Expresso do Oriente' é a sua consolidação como a grande autora de policiais do século XX - e a de Poirot como o detective mais perspicaz da história da ficção.

Na primeira obra, que é talvez a mais famosa de todas as escritas por Agatha Christie, dá-se, como o título indica, 'Um Crime no Expresso do Oriente', que só pode ter sido um dos passageiros ou tripulantes a cometer. Mas ninguém parece ter sido o verdadeiro assassino, e ao mesmo tempo todos parecem ter algo a incriminá-los. Claro que Poirot consegue olhar para lá do que está à vista e desvendar um mistério que nos enche a todos de surpresa quando o descobrimos, e que é sem dúvida muito original na obra de Christie.

Na segunda obra, 'O Mistério de Listerdale' é apenas um dos primeiros contos da autoria revelados nesta compilação de pequenas histórias que mostram a sua genialidade enquanto criadora de personagens (tanto as vítimas como os assassinos, passando por aqueles que procuram desvendar a verdade) e de enredos policiais fascinantes. Destaque, por exemplo, para 'A Estranha Casa de Campo', a história da rapariga que descobre que não conhece o homem com quem casou, com um final inesperado mas que não podia fazer mais sentido no rumo que a história acaba por tomar.

Há nestas histórias, tal como em 'Um Crime no Expresso do Oriente', uma vitória da lógica sobre os crimes ou mistérios escondidos, sobretudo em Poirot, que é também uma vitória da verdade, da bondade, da justiça. Tudo isto se consegue sem falsos moralismos, e sim com uma grande inteligência que culmina na resolução dos mistérios. Há sempre esperança na descoberta, há sempre perspicácia e vontade de saber mais. E essa é a maior lição que Agatha Christie nos pode dar para a vida real, através de todas estas vidas e mortes inventadas.

O que passava na sua cabeça ao escrever estas histórias, ninguém saberá. Certo é que Agatha Christie continua a ser a mente mais genial no que respeita à escrita policial - e cada novo livro leva-nos numa nova aventura pelos seus crimes e mistérios inesquecíveis.

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