Benjamim - Chico Buarque

 
"E quando ela acaba de passar, o sorriso não é mais dela, é de outra mulher que Benjamim fica aflito para recordar, como uma palavra que temos na ponta da língua e nos escapa."
'Benjamim', Chico Buarque

Chico Buarque é, efectivamente, o homem de todos os talentos: ele compõe, ele canta, ele escreve, e em todas estas atividades parece dar o melhor de si. Em 'Benjamim', é maravilhosa a forma como vamos lendo o romance como uma canção de amargura, de 'fim', e ao mesmo tempo com um traço de beleza, simplicidade e esperança muito característicos em tudo o que nos transmite.

Benjamim é um ex-modelo que nunca casou, nunca teve filhos - um homem que a vida parece ter renegado com o tempo, quase numa perspetiva oscarwildiana de hedonismo e perda da beleza física. Não que a tenha obrigatoriamente perdido, mas pelo menos a reforma chegou cedo e nada na sua vida pareceu fazer sentido depois disso. Quando vê Ariela, vê nela a mulher que um dia amou, Castana Beatriz, e é como se por momentos a sua esperança renascesse.

Seguimos os seus encontros, a vida dele, a vida dela, os seus pensamentos, personagens secundárias que de certa formas lhes retiram protagonismo (propositadamente, parece-me) pela forma como escapam às 'dores' da vida. De forma subtil, vamos também conhecendo o passado de Benjamim, a sua história triste com Castana Beatriz, e acompanhado a jovem Ariela, que apesar de jovem parece sofrer de um passado e de uma vida que não foram as suas.

E à medida que os vamos vendo, é como se tudo o que sentem não fosse verdadeiramente seu; todos os pensamentos e sentimentos são como que despersonalizados. A própria narração espelha esta fuga constante ao 'eu' de cada um deles - é omnipresente, mas não pertence a nenhum deles. Tudo passa à frente de Benjamim, sobretudo: o seu passado, o que vive no presente, as vidas dos outros. E parece que, à medida que vai encontrando algo a que se agarrar, em simultâneo, vai caminhando em direcção a um abismo qualquer, que não sabemos bem o que será.

A ideia que fica é a de que tudo na vida é efémero, como a beleza. Tudo acontece, tudo se vive e tudo passa quase num fechar de olhos. Daí que também, de certa forma, a despersonalização de tudo faça sentido. No entanto perdemo-nos um pouco nesta falta de sentido que por vezes se sente, na escrita que não é assim tão envolvente como queríamos.

Chico Buarque convenceu-me a continuar a lê-lo, a ouvi-lo (sempre!) e a procurar outros dos seus romances, apesar de este 'Benjamim' não me ter cativado tanto como a sua 'Valsinha', o seu 'Todo o Sentimento' e outras canções que nos levam completamente para outro mundo (ou para o nosso interior!).

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