O Grande Gatsby - F. Scott Fitzgerald

"Ainda não parara de olhar para Daisy, e julgo que reavaliou tudo o que tinha em casa de acordo com a medida da reacção produzida no olhar da sua bem-amada."
'O Grande Gatsby', de F. Scott Fitzgerald

Nota prévia: segundo as contas do Goodreads, foi o meu livro nº 100! :)

Não é fácil começar a falar de 'O Grande Gatsby', quando uma história aparentemente tão simples é, na verdade, uma tragédia profunda, da realidade humana, da desilusão e de sonhos vencidos pelo tempo. Fitzgerald pega nos loucos anos 20 e no clima que rodeava a sua própria vida para criar um homem que ficaria para a história como símbolo da decadência do que chamam o 'sonho americano'. Uma história de amor, de amor próprio e de falta de amor. 

'O Grande Gatsby' é a história de Jay Gatsby, um novo-rico de negócios estranhos e com um passado misterioso, contada por Nick Carraway, o vizinho da sua grande mansão em West Egg. Nick é primo de Daisy, uma jovem rica e casada com Tom Buchanan. Enquanto Tom tem um caso com uma mulher casada, Daisy esconde no seu passado um romance com Gatsby, na altura um soldado pobre. Cinco anos depois, é Gatsby que encontra a possibilidade de voltar a estar com ela e reavivar o seu amor. 

A narração é na primeira pessoa, mas não é a história de Nick que nos cativa. Ele é um homem 'normal', o único que, a certa altura, tem conhecimento de toda a história. É também o único verdadeiro amigo de Gatsby, o que admira o seu esforço, o que compreende a sua atitude na vida e chora a sua incapacidade de conseguir concretizar a sua verdadeira aspiração. Identificamo-nos com ele na medida em que sabemos o mesmo que ele; na medida em que o tomamos como o próprio Fitzgerald a contar a maravilhosa história de Gatsby.


"Não se pode repetir o passado."

E é aos poucos que, também nós, vamos conhecendo melhor este homem misterioso, que muitos acreditam ter ar de quem já matou um homem. A ironia das aparências não deixa de ser evidente. Gatsby é, sim, um homem que despreza a pobreza em que nasceu, que se apaixona por uma mulher de outra condição social e que faz tudo, mesmo que envolva actividades criminosas, para conseguir ascender socialmente e provar-lhe que se tornou alguém que ela pode amar. Vive no passado, sempre com esperança na luz verde na escuridão. Como se aqueles cinco anos não tivessem significado nada na sua vida, para além da construção de uma mansão, de festas com celebridades e a transformação num homem novo - que mais não é do que o mesmo homem, amargurado, obcecado e, no fim de tudo, solitário. 

Ele chama "meu velho" a todos os seus 'amigos', embora seja ele quem mais parece ter envelhecido na busca constante pelos tempos perdidos da juventude. A desilusão deste passado espelha-se na tragédia, sobretudo da percepção de que o sonho acarretava expectativas impossíveis de alcançar. Toda a obra é trágica neste sentido de decadência: embora conquiste o sonho americano, a riqueza não corresponde à felicidade. E a crítica do autor está presente nas festas cheias de pessoas que nem conhecem o dono da mansão, nesta prosperidade criminosa, no adultério consentido nos homens e nas mulheres que calam, mas quando são elas a ter outros homens a infidelidade já é condenável. Também na desilusão do próprio Nick com aquele estilo de vida e os falsos amigos que agem apenas por interesse. 

 "Por um instante, o último raio de sol demorou-se, com romântico carinho, no seu rosto radiante; a voz dela obrigava-me a avançar, sem conseguir respirar, enquanto escutava... depois o brilho desvaneceu-se, ela foi abandonada a muito custo por cada réstia de luz, como as crianças, quando deixam uma rua agradável ao entardecer."

 O resultado é uma história bem construída, que vamos descobrindo aos poucos através dos próprios relatos de Gatsby, que encontra em Nick uma pessoa confiável para guardar os seus segredos e para o retratar dignamente. Todos os bons homens o merecem, e Gatsby não tem culpa do seu destino. Tudo o que fez foi por amor. Por isso não conseguimos não simpatizar com ele e agradecemos a Fitzgerald por ter criado uma história tão, ao mesmo tempo, cativante e perturbadora. 

"Era um daqueles sorrisos raros, com que só nos deparamos umas quatro ou cinco vezes na vida. Encarava - ou parecia encarar - num único instante, o mundo eterno no seu todo, e depois concentrava-se em nós, com irresistível predilecção. Compreendia-nos apenas até onde queríamos ser compreendidos, acreditava em nós como gostaríamos de acreditar em nós próprios, e assegurava-nos que tinha de nós exactamente aquela imagem que, nos nossos melhores momentos, esperávamos projectar."

Comentários

  1. Quase o lemos ao mesmo tempo!
    Espelhaste muito bem o que é o livro. A verdade é que sentimos um pouco pena do Gatsby, queremos fazer alguma coisa para "remediar" a vida dele e sabemos que não há nada que possamos fazer.
    Do Fitzgerald (este génio!) só li mais o conto do benjamin button, mas tenho gostado tanto que quero ler tudo, tudo, tudo :)

    Bonito este teu blogue. vou seguir!*

    PS: temos mesmo de fazer um bookclub! :P

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  2. Eu alinho no Bookclub! Ver se leio este livro no Summer! :)

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